No início dos anos 1990 comecei a ler a série “Sandman”, história em quadrinhos de Neil Gaiman. Era revolucionária em vários aspectos: pela temática, concepção visual, ritmo, referências… Enfim, algo que me fez buscar todos os gibis, o que, na época, era difícil e caro. Ponto especial de atenção para as magistrais e instigantes capas de Bill Sienkiewicz, algumas das quais reproduzo para ilustrar este artigo.
A temática girava em torno do “Senhor dos Sonhos”, “Morpheus”, “O Oniromante” ou “Sandman” e sua saga para recuperar itens que lhe foram roubados em um ritual mágico, com citações mitológicas interessantíssimas e contextos pra lá de criativos. Mas o que nos interessa aqui é a importância dada aos sonhos das pessoas, uma das portas de acesso ao inconsciente apontadas por Freud em sua obra princeps “A Interpretação dos Sonhos” (1900), publicado próximo à virada dos séculos XIX para o XX, e que até hoje é utilizado como literatura básica para os que se interessam pela psicanálise. Em outro texto fundamental – O Infamiliar (1919) – o próprio Freud faz menção ao mito do “Homem da Areia”, em uma versão um tanto diferente da que se conhece em que ele, por espalhar a sua areia nos olhos de quem se deita para dormir, seria o provocador do sono, e dos sonhos por consequência.

Retornando a “Sandman”, gostaria, portanto de recomendar com veemência a obra de Neil Gaiman e a recente leitura para TV, aguardada há bastante tempo e produzida para a plataforma Netflix. Série bem feita, com adaptação competente, que garante diversão pelas boas atuações e efeitos visuais. Mas quero me deter em um episódio específico, o quinto (“24/7”) que apresenta uma passagem com uma personagem – John Doe – que detém a pedra preciosa do Sandman, cujo “poder” seria o de realizar sonhos. O episódio então transcorre com a missão auto imposta de John Doe de modificar o mundo eliminando as pequenas mentiras do dia-a-dia com o poder da pedra, fazendo com que as pessoas em um restaurante passassem a expressar livremente seus desejos. Convenhamos que nada mais próximo do que Freud definiria como o sonho: a realização de desejos, em última instância. E o episódio se desenvolve de forma trágica, evidenciando as consequências de um mundo sem a barra do recalque (leitura minha). De forma perversa, John Doe “libera” os desejos das pessoas do restaurante com resultados trágicos que deixo em suspenso para que eu seja preservado da pecha de spoiler.
Fica, portanto, a dica sobre os quadrinhos e a série “Sandman”, que nos ajudam a pensar um pouco sobre os efeitos do sonho e da fantasia em nossas vidas.
Deixem seus comentários para que possamos trocar mais impressões sobre esta e outras obras que nos ajudam a pensar sobre o inconsciente.
Até o próximo artigo!
Interessante Glauco.
Eu conheci o sandman na minha adolescência. Não me lembro se cheguei a ler alguma edição.
Comecei a assistir a série, e parei justamente no episódio do restaurante… pois ja estava com sono e ja estava muito confuso.
Mas essa sua leitura me instigou a retomar a série.
Vamos ver o que vai acontecer rsrs
Parabéns pelo artigo!!!