Tenho pensando muito sobre este termo (respeito) e o que subjaz por trás dele. Vejamos, pois.
É claro que o tecido social só é possível a partir de pressupostos de respeito entre as pessoas em geral e a algumas figuras realmente eminentes, que ganham o respeito de segmentos da população a partir de feitos ou opiniões notáveis ou que apenas ressoam com as suas próprias percepções. Com isso construímos e preservamos as relações de colaboração mútua que permitem desfrutarmos dos confortos da malha de benefícios que a sociedade nos proporciona. E isso é estabelecido e aprendido desde cedo, baseado em pressupostos de confiança e consideração de experiência, saber notório ou, por outro lado, de reconhecimento de necessidade de cuidado ou posição frágil que se deva relevar.
Mas e quando esses pressupostos de confiança não se sustentam ou se revelam ilusórios ou fantasiosos? Ou, ainda, e quando são instrumento de sujeição ou, mesmo, de opressão?
‘Devemos respeitar __ “, e nessa lacuna cabem diversos substantivos: os líderes, os mais velhos, os professores, os mais fracos, os mais vulneráveis, etc. E atrás desse dever de respeito – uma dívida? – começamos a suspeitar que nem sempre isso é possível ou é sustentável. Afinal, por que devo, ainda, respeitar um mau líder ou um mau professor? Podemos pensar que uma dívida simbólica, anterior à minha existência, suporta a nominação da ocupação social dessas pessoas e, por isso, e apenas por isso, devo-lhes respeito.
E aí começam as grandes distorções do poder, não é? Acabo sentindo que devo respeito a quem não me respeita; a quem age perversamente comigo; ou a quem se aproveita do respeito que lhe é pressupostamente devido para tirar vantagem disso.

Por que levanto esta questão?
Porque na raiz dessas dinâmicas “respeitosas” encontram-se grilhões inconscientes que mantêm famílias ou grupos inteiros em cativeiro psíquico ou moral. Afinal, o respeito excessivo é o gérmen da mitificação e da alienação – como sua contraparte.
Não sugiro aqui o desrespeito rebelde e inconsequente – embora expressão de um desejo legítimo, convenhamos. Por outro lado, convido à reflexão sobre “que respeito TODO é esse?” que permite que o perverso se aproveite da criança, que o líder explore o liderado e assim por diante. É aceitar passivamente essa posição excessivamente respeitosa que, muitas vezes, faz perdurar grandes sofrimentos por uma vida inteira, às vezes.
Casos frequentes de assédio moral no trabalho, disfarçado de relação respeitosa, progridem para quadros traumáticos de ansiedade e angústia que acabam custando a saúde de quem não age para reposicionar-se. E uma terapia psicanalítica é uma indicação, sem dúvida, para este processo de reposicionamento.