Ansiedade: um “medo de fundo”

Ansiedade

Dias atrás estávamos conversando sobre algumas histórias de paciente e pessoas conhecidas que se diziam ansiosas. A partir dos relatos não houve muito como escapar à ideia correlata de antecipação negativa excessiva, algo que recorre, que absorve o sujeito em fantasias em que a sua posição é frágil e ele será inapelavelmente vencido, anulado, perdido.

Quando pensamos em ansiedade podemos recorrer às definições mais sofisticadas da psiquiatria e da neurologia, invocar um vocabulário pouco acessível de ativação de sistemas glandulares e hormonais – tudo verdade e sem dúvida útil no seu tratamento. Mas gostaria de centrar a nossa impressão em um termo essencial: medo. Portanto, atrevemo-nos, neste artigo curto, a resumir a reflexão sobre o tema como sendo um medo que acompanha o sujeito em diversas situações e que vai além da precaução ou do cuidado previdente. Afinal, quando se está na beirada de um edifício que está mal protegida é interessante ou “natural” ter medo. Ou quando se é ameaçado concretamente por alguém que está armado ou é sensivelmente maior ou mais forte, uma série de mecanismos orgânicos – ativação do complexo amidaloide, luta ou fuga, inundação de adrenalina – preparam o sujeito para proteger-se, fugir, reagir ou ser levado até o extremo da paralisia física. Paralisado de medo, diríamos. Mas e quando sensações similares ocorrem e o que acomete o sujeito é a antecipação de um evento? E quanto esse evento nem mesmo é concreto?

Não são poucas as pessoas que fazem desse medo excessivo um traço de personalidade até mesmo aceito socialmente. São os muito precavidos, previdentes, cuidadosos. Mas, muitas vezes, por trás desse traço há, de fato, um excesso “insaciável” de cuidados que procuram, sim, mitigar todo e qualquer risco ou incerteza, pois o sujeito em questão sente-se desproporcionalmente ameaçado. Em geral há uma sequência aparentemente inesgotável de pensamentos com o formato de “e se…”, como expressão de diversas situações ameaçadoras mais ou menos prováveis (ou não!) que redundarão em perda, desonra, derrota, lesão ou, em última instância, morte.

É esse medo de fundo, que às vezes até suscita arroubos de agressividade – confundida com “coragem” ou firmeza – que gostaríamos de destacar no momento, pois é o que vai como que intoxicando o sujeito em sua vida e consumindo tempo e energia preciosos da sua existência. E as perguntas que nos cabem no consultório em relação a esse quadro nos levam quase sempre a episódios fundadores da personalidade do sujeito, que revelam, na sua particularidade, um núcleo de desamparo bem mais essencial do que se poderia esperar.

Portanto, se você se reconheceu nestes parágrafos ou reconheceu alguém próximo, fica o convite para vir conversar conosco e considerar o início de um trabalho psicanalítico.


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