No último sábado (22/10/22) participei de um bate-papo com o elenco e o público da peça A Tropa, juntamente com o colega Robson Mello, do FCL-Curitiba.
Resolvi registrar a passagem no nosso blog porque foi um momento muito importante para todos os presentes. O tema central girou em torno dos silêncios forçados em família que, infelizmente, a despeito de todo o avanço possível em nosso tempo e tudo que se conversa e divulga sobre a transparência nas relações afetivas, fez-se ver encenado com extrema fidelidade em situações que ressoaram com os dramas familiares de muitos que se encontravam na plateia, e que puderam dar testemunho de terem (sobre)vivido (a) situações semelhantes durante o nosso bate-papo.
Torcendo para que todos possam assistir à peça um dia, adianto que é a história de um coronel aposentado do exército que, em um episódio de doença em sua velhice, é visitado no hospital por seus 4 filhos que trocam histórias e impressões sobre a vida que tiveram sob a forte influência do militar idealista. As revelações vão se mostrando bombásticas, entremeadas pela genialidade do texto que produz momentos bem-vindos de alívio cômico que valorizam a riqueza dos relatos e das personagens. A peça foi montada pela primeira vez em 2016, como uma reflexão relacionada ao clima de acirramento político e temores que já apontavam radicalizações.
Nossa preocupação durante o bate-papo ficou focada nos fenômenos que encontramos na nossa atuação como psicanalistas, pois vimos recebendo relatos de amizades desfeitas, cisões em família, desconforto e temor no trabalho, intensificação de preconceito e – sinal de alerta para a sociedade – violência. Sim, pois a fantasia ou a concretização da violência aponta para a inviabilização do simbólico, da palavra, do discurso. Um caminho que nos leva para a fragilização do tecido social enquanto espaço de convivência da diversidade e da diferença.
A intensificação de afetos com base na manipulação fantasiosa dos temores de um sujeito é algo difícil de modificar, pois passamos a trabalhar com um fenômeno da ordem da identificação, da verdade e, por isso, pouco questionável. E nessa esteira legitimam-se a segregação e as “fobias” – homofobia, aporofobia, xenofobia, etc.
Foi, então, um momento de compartilhar impressões e celebrar o poder do teatro como o momento mágico de fazer emergir aquilo que, de outra forma, seria indizível.
Permanecemos de portas e ouvidos abertos para a reconstrução de vias e conexões entre as pessoas a partir do nosso trabalho que procura ouvir o que não está ainda dito. E, talvez, ressignifcar o que já foi dito.
Foi muito especial esse encontro com o FCL Curitiba. Muito obrigado!
Abraços!
AR Produções, André Roman, A Tropa