Janeiro vem de “Jano” ou “Janus”, um deus do panteão romano que tinha duas faces – uma, velha, voltada para o passado e outra, jovem, voltada para o futuro. É assim que recebemos, portanto, este mês que se inicia próximo ao solstício, de verão no sul do planeta e de inverno, no norte, lembrando-nos de que é o mês que abre um novo ciclo e que já era considerado, milênios atrás, como um momento ou período de avaliação e de renovação de expectativas. Ou, mais resumidamente, de recordações e de acolhida aos sonhos e projetos.
Pois eis que este janeiro de 2.021 reservou-me, já, uma boa surpresa em um mesmo dia de atendimento com duas sessões seguidas bastante peculiares. Em uma das sessões, inicia o trabalho um jovem com uma questão central, que estagna sua vida profissional e que reverbera por outros aspectos de sua vida. Na sessão seguinte, por outro lado, faço o encerramento de um ciclo de sete anos com outro jovem que se despede do set analítico lembrando-se, até com algum bom humor, dos episódios de extremo sofrimento e limitação emocionais que eram relatados nas primeiras sessões.
Eu tinha, portanto, em um intervalo de duas horas, visto constituir-se praticamente um retrato de Jano, com um sujeito iniciando um ciclo, com um sintoma pronunciado e com a energia das suas questões aflorando e buscando suas primeiras respostas e, em seguida, outro, fechando o seu ciclo com a serenidade das conclusões e lembranças de interpretações construídas que agora lhe permitem trilhar um novo caminho, com novas decisões possíveis.
Não tenho dúvidas de que será mais um ano de provações, na medida em que precisaremos permanecer atentos quanto aos riscos inerentes à pandemia e que ainda teremos que enfrentar muitas fantasias infantis que se manifestam como negacionismo, além posicionar-se firmemente pelos princípios que determinarão a recuperação e manutenção da saúde mental e orgânica da nossa espécie. Mas estas duas sessões seguidas em um dia de janeiro foram uma injeção de ânimo que me fizeram relembrar a célebre frase de Freud – uma das mais importantes e fundamentais em sua vasta produção:
“Wo es war, soll ich werden.” – Onde há o isso, que o eu advenha.
E que venham os próximos meses!