Resolvi escrever um pouco sobre este tema desde que assisti à reportagem do Fantástico, dias atrás, sobre a atividade denominada de “coach”.
Minha interpretação: em algum momento de sua vida, uma pessoa olha-se no espelho e, eivada de expectativas, projeções e, muitas vezes, para dar resposta a algo que lhe é alheio, reconhece-se menor, aquém ou abaixo do que sua auto-estima pode tolerar. Pensa: quero mudar! Preciso mudar!
E, na busca de corresponder a esse ideal, uma miríade de alternativas sob as mais diversas alcunhas, com propostas de trabalho extremamente sedutoras que apelam principalmente ao tempo que será necessário para se chegar onde se quer – supostamente – chegar.
A ânsia do imediatismo que cada vez parece ser possível em tempos de velocidades estonteantes e quase instantâneas faz parecer que também aquilo que nos habita e nos constitui inconscientemente também vai poder ser modificado como se muda de roupa ou corte de cabelo.
O tempo do corpo, da ressignificação, do eviramento das pulsões é outro. Na realidade é o tempo de cada um, e vai depender do quanto cada um pode investir de si em fazê-lo, ou não, avançar do ponto onde se encontra em sua história. A promessa de uma fórmula super-heroica que vai suspender o regramento orgânico e pulsional de um sujeito chega a ser irresponsável e constitui, em uma análise crua, uma ilusão pueril, própria do tempo em que podíamos fantasiosamente ser e fazer o que quiséssemos.
Mudar – mudar, mesmo! – custa. Aquilo que nos faz ser o que somos, que nos permite fazer – ou não fazer – o que queremos está arraigado e funciona aquém e além, ao mesmo tempo, do que achamos que somos. Detectar, aceitar, anular, redirecionar, perdoar, deixar morrer aquilo e aqueles que se apresentam como as manchas na nossa imagem no espelho acontece em uma sequência de conclusões doloridas e marcantes que se apoiam na relação com o analista em um caminho, um percurso, geralmente longo, como não podia deixar de ser.
O desejo de mudar e o reconhecimento da urgência para que isso ocorra são absolutamente saudáveis. Assim como também deve ser encarado como saudável e recomendável o respeito e a paciência no investimento que vai ser feito para que a desejada mudança ocorra, pois, de outra forma, a mudança revelar-se-á meramente cosmética, ou seja, não resistirá ao suor, ao tempo, à chuva ou, mesmo, ao mais leve toque ou esbarrão.