O nosso perfil nas redes sociais é nossa apresentação para o mundo. É onde confrontamos nossa felicidade com a dos outros. Quase ninguém tem coragem de postar uma foto de sua tristeza, como se houvesse uma ditadura da felicidade tácita. É quase como se fosse um pecado.
Na idade média, dizer-se infeliz também era considerado pecado, porque se estava desprezando o Criador. No século XX essa demonização da tristeza voltou, mas agora não como uma afronta a Deus, mas em consequência da hipervalorização da felicidade.
Hoje ser triste é doença. Existe até medicação para isso. Não se pode mais viver as perdas, os lutos, as desilusões da vida sem que alguém preocupado conosco nos aconselhe a procurar um médico.
Contardo Calligaris, num texto seu, nos coloca a necessidade de vivermos plenamente nossas dores porque essas dores fazem parte da nossa história e abrir mão delas nos faz abrir mão de um pedaço importante das nossas vidas. Isso me lembrou o filme “Click” no qual a personagem de Adam Sandler, na posse de um controle remoto mágico, pula partes da vida que ele considerava tristes e chatas. Um dia ele acorda, mais velho, sem lembranças de nada. Ele, na busca de viver só momentos felizes, acabou desperdiçando a vida. Ou, ainda, em O Fio da Navalha, em que a personagem principal se distancia do mundo do consumo e das aparências após ter vivido experiências intensas na 1ª Guerra Mundial e, em uma posição um tanto melancólica, pauta sua vida em torno de questões que descobre essenciais e simples, no que não é compreendido por sua família e amigos.
A terapia é sempre um bom caminho para impor limites para que, afinal, não se instale uma ditadura da felicidade vazia, alienante e onde se reconhece um fundo constante de ansiedade insolúvel.
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